Assembleia Municipal de Braga condena
o Holodomor (1932– 1933) e realça a integração
da comunidade ucraniana de Braga
… a Assembleia Municipal de Braga, reunida em treze de julho de dois mil e dezoito, delibera: Um – Saudar a Comunidade Ucraniana de Braga, reconhecendo a sua excelente integração e o seu contributo para a vida do nosso Concelho; Dois – Expressar a sua solidariedade com o povo ucraniano e reconhecer o genocídio que terá vitimado cerca de sete milhões de ucranianos nos anos de mil novecentos e trinta e dois e mil novecentos e trinta e três, na Ucrânia; Três – Condenar todas as formas de totalitarismo e todo o tipo de violações e crimes contra a humanidade; Quatro – Divulgar esta posição da Assembleia Municipal de Braga junto da Comunicação Social”.
João Granja apresenta Voto de Condenação
A palavra foi dada ao Deputado do PSD, JOÃO GRANJA, para proceder à apresentação de um Voto de Condenação, subordinado ao tema: “Holodomor – A Grande Fome de mil novecentos e trinta e dois e mil novecentos e trinta e três – um dos genocídios do século vinte”, que revelava que: A comunidade ucraniana de Braga é uma das mais representativas e um exemplo a seguir no que diz respeito à sua integração na sociedade bracarense. Com as suas tradições, os seus hábitos, a sua cultura rica, participação cívica e religiosa, é merecedora de público reconhecimento pelo contributo que dão para uma Braga inclusiva, diversificada, multicultural e cosmopolita. Em mil novecentos e trinta e dois e mil novecentos e trinta e três a Ucrânia sobreviveu a uma tragédia horrível conhecida como, o Holodomor que sacrificou milhões de vidas humanas. O regime comunista soviético ordenou a apreensão, de alimentos às populações, bloqueou aldeias e bairros, proibiu a saída da Ucrânia envolta num cenário de fome, aboliu o comércio rural, reprimiu pessoas que se opunham ao regime e criou intencionalmente estas condições com o objectivo de condicionar os ucranianos como nação e impor a colectivização da agricultura como é destacado na Resolução do Parlamento Europeu de vinte e três de outubro de dois mil e oito. Este assunto foi objeto de uma Declaração Conjunta aprovada na quinquagésima oitava Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro de dois mil e três, de uma Resolução da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, de vinte e cinco de janeiro de dois mil e seis e de uma Moção apresentada, em vinte e cinco de janeiro de dois mil e oito na mesma Assembleia Parlamentar sobre ” a necessidade de uma condenação internacional do Holodomor ucraniano de mil novecentos e trinta e dois, mil novecentos e trinta e três”; foi ainda objeto de uma Resolução da Conferência-Geral da UNESCO, de um de novembro de dois mil e sete, de “Homenagem às Vitimas da Grande Fome da Ucrânia” e, ainda, a Declaração Conjunto dos Estados-Membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), no setuagésimo sexto Aniversário de Holodomor, em trinta de novembro de dois mil e sete. No momento em que a comunidade ucraniana bracarense desenvolve um esforço para lembrar a tragédia de Holodomor, enquanto crime contra a Humanidade, como forma de responsabilizar os seus autores e evitar que se venha a repetir no futuro, importa expressar solidariedade a uma causa como esta que visa o respeito pela dignidade humana, pelos valores da liberdade e da democracia. Assim, a Assembleia Municipal de Braga, reunida em treze de julho de dois mil e dezoito, delibera: Um – Saudar a Comunidade Ucraniana de Braga, reconhecendo a sua excelente integração e o seu contributo para a vida do nosso Concelho; Dois – Expressar a sua solidariedade com o povo ucraniano e reconhecer o genocídio que terá vitimado cerca de sete milhões de ucranianos nos anos de mil novecentos e trinta e dois e mil novecentos e trinta e três, na Ucrânia; Três – Condenar todas as formas de totalitarismo e todo o tipo de violações e crimes contra a humanidade; Quatro – Divulgar esta posição da Assembleia Municipal de Braga junto da Comunicação Social”. Posto à votação foi o referido voto de condenação aprovado com duas abstenções e com cinco votos contra. Usou da palavra a Srª. Deputada da C.D.U., CARLA MARIA DA COSTA E CRUZ, para, numa Declaração de Voto, salientar que o PSD os brindou, hoje, ali, mais uma vez, aliás, já os tinha brindado na Assembleia da República, com uma falsidade histórica. Não era verdade. Era uma grosseira violação da verdade histórica aquilo que, hoje, ali, assistiram. A Embaixadora da Ucrânia em Portugal, agastada e, hoje, ali, o PSD, dando-lhe, também, essa legitimidade, disse que houve vítimas de fome, houve um genocídio, esqueceu completamente o rigor histórico. E era importante que se dissesse e se repusesse a história relativamente àquele facto. Houve uma crise de cereais, naquela altura, foi verdade e foi essa crise de cereais que provocou a situação, que agora queriam dizer e queriam atribuir a outros e, nomeadamente, ao regime soviético a causa para esse genocídio. Era mentira. Foram essas as razões pelas quais na Assembleia da República votaram contra, em coerência, votaram contra, também, ali, na Assembleia Municipal. Outra Declaração de Voto foi presente, agora pelo Sr. Deputado do B.E., ANTÓNIO MEIRELES DE MAGALHÃES LIMA, dizendo que o Bloco se absteve naquela moção, pela simples razão de não ter informação suficiente, para formular um voto definitivo sobre essa matéria. Tinham conhecimento, aliás estiveram numa exposição promovida por uma Associação Ucraniana no Museu Dom Diogo de Sousa, simplesmente consideravam que aquilo era uma questão que afetava, em primeira mão, a relação de dois povos, os povos da União Soviética e Ucraniana, que respeitavam, tanto um como outro. A cidade de Braga tinha gente da União Soviética e da Ucrânia, ambos mereciam o seu respeito. Era evidente que a sua abstenção não significa que condenassem de forma, isso sim, perentória, todo e qualquer autoritarismo e toda e qualquer violação dos direitos humanos, verificassem-se elas onde fosse. Tanto fazia que fosse na Ucrânia, como na União Soviética, como em Espanha, como em qualquer outro país. Voltou a usar da palavra o Sr. Deputado do P.S.D., JOÃO ALBERTO GRANJA DOS SANTOS SILVA, para, noutra Declaração de Voto, dizer que aquela matéria, levaram-na, hoje, àquela Câmara, porque entendiam que em questões de liberdade, de democracia e de direitos humanos, a todos os deveria unir. E não era por acaso, e se a comunidade prestava uma colaboração com a nossa comunidade, e se, de facto, tinha essa causa, tinha esse mérito, esse valor e essa amplitude, entendiam que deveriam dar, ali, eco e a razão de terem, ali, apresentado uma proposta naqueles termos. E fizeram-no, porque isso já foi aprovado nas Nações Unidas, no Parlamento Europeu, no Conselho da Europa, na OSCE, na Assembleia da República, nos Parlamentos de muitos países, foram dezenas e dezenas de países onde aquele documento foi apresentado. Toda aquela gente estava contra a verdade histórica? Julgava que aquilo que ficaram a saber naquela noite, era que ainda tinham na nossa Câmara em Braga, quem defendia e quem se queria assumir como censor da velha herança do estado comunista, autoritário, com aquele tipo de práticas, que já julgavam desmoronado, desaparecido e que apenas constava das memórias. Mas, pelos vistos, ainda tinham, ali, quem se doesse com a herança e que tivesse o distinto atrevimento de ir, ali, justificar-se com erros históricos, contra todas essas instituições, a razoabilidade de um comportamento sinistro e condenável.
Discurso do padre Vasyl Bundzyak
Nasci na Ucrânia, país de meus pais e meus avós.O país onde nasci tem sido ao longo dos anos, agravando-se na última década, palco de alguma instabilidade social, política, económica.
Face a esta instabilidade, ocorreram na Ucrânia movimentos migratórios para o Ocidente Europeu, procurando essas massas de emigrantes alcançar locais onde fosse possível trabalhar com segurança e paz.
Em 2002 acompanhei um desses movimentos migratórios com destino a Portugal,e como padre prestei o necessário apoio e conforto religioso e moral.
Nesta cidade de Braga, local onde me instalei e fui acolhido, onde a comunidade Ucraniana já representa uma parte significativa dos bracarenses, procurei a ajuda das entidades públicas e eclesiásticas, assim como do povo em geral, de modo a assegurar aos emigrantes ucranianos um local de culto, assim como a sua plena integração nesta sociedade lusitana.
Desde logo, confesso que me sinto francamente emocionado e gratificado com a abertura demonstrada por toda comunidade com destaque para Igreja Católica de Braga.
Na verdade, a igreja de Braga disponibilizou um local destinado à oração e culto religioso, onde pudessemos rezar a Cristo nosso Salvador, clamando pela paz no Mundo, pela paz na Ucrânia.
Por tudo isto, por este espirito ecuménico, os meus sinceros agradecimentos à Igreja Católica de Braga, o meu bem hajam.
Por outro lado, não posso esquecer a colaboração prestada pela Câmara Municipal de Braga e pelas Juntas de Freguesia.
Tenho de enaltecer a abertura e apoio que esta Edilidade tem prestado ao povo ucraniano, criando condições e colaborando na sua integração social.
Estou a todos grato pela apoio e compreensão que me têm dispensado, que têm dispensado à comunidade ucraniana, contudo, não posso deixar de prestar pública e sentida homenagem aos Srs Presidentes das Juntas de freguesia de Maximinos, S. Lázaro e S. Vítor que, de uma forma continuada e colaborante, têm respondido às minhas solicitações, às solicitações do meu povo em Deus.
Confesso que estou surpreendido.
Estou surpreendido com Portugal, país aberto ao mundo, sem preconceitos de cor, sexo ou raça.
Esperamos que Portugal, com todo o seu peso histórico, consiga ajudar a Ucrânia a alcançar a paz que todos almejamos e procuramos.
Estou surpreendido com os portugueses, pessoas dinâmicas e trabalhadoras, acolhedoras e sempre disponíveis a ajudarem quem os procuram.
Só assim, com todos estes vectores, é que foi possível ao povo ucraniano integrar-se plenamente nesta sociedade bracarense.
Portugal é hoje para nós também a nossa Pátria.
Pretendemos ser dignos da vossa história, dos vossos heróis, ajudando a levantar “o esplendor de Portugal”.
Foi com este desígnio, com este propósito, que constituímos a Associação Luso Ucraniana, onde procuramos ensinar a história e língua portuguesa e ucraniana, ajudando a integrar os ucranianos nesta sociedade bracarense, nesta sociedade portuguesa.
Despeço-me agradecendo a atenção e tempo que me concederam para falar e, em meu nome e em nome do povo ucraniano, os meus sinceros agradecimentos, o meu muito obrigado.
Viva Portugal
Glória à Ucrânia